Quase um terço dos cariocas vive em favelas, aponta IBGE
05/12/2025
(Foto: Reprodução) Quase um terço dos cariocas vive em favelas, aponta IBGE
Quase um terço da população do Rio vive em favelas. Isso corresponde a aproximadamente 2 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados, divulgados nesta sexta-feira (5), confirmam a falta de infraestrutura em dois dos territórios mais conhecidos da cidade: a Rocinha, a maior favela do Brasil, e o Morro da Providência, no Centro da cidade.
Na Rocinha, apenas 3,2% das vias permitem circulação de carros ou vans, e menos de 20% dos moradores vivem em trechos com calçadas.
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O Censo 2022 mostra que 81,9% das vias da Rocinha só permitem circulação por moto, bicicleta ou pedestres, o que torna a locomoção diária um desafio — especialmente para quem tem mobilidade reduzida.
Endereços com calçadas: Rocinha: 12,1%
Endereços com iluminação pública: Rocinha: 54,3%
A comunidade também apresenta baixos índices de infraestrutura urbana:
O morador Ruan Julliete relata que a rotina é marcada por trajetos longos, ladeiras íngremes e escadas que dificultam até tarefas simples. Muitos serviços — como o abastecimento de água — são mantidos pelos próprios moradores, já que equipes demoram a chegar aos becos mais altos.
Edvado Braga, porteiro e morador, diz que quando um cano estoura, o reparo depende deles.
“Quando tem cano quebrado, somos nós que consertamos. Até chegar alguém aqui, já foi embora muita água”, relatou.
O crescimento desordenado também obrigou os moradores a criarem caminhos próprios ao longo dos anos. Escadas, passagens e pequenos acessos foram construídos coletivamente pelos vizinhos para facilitar a circulação entre vielas de barro e morros íngremes.
A Favela da Rocinha
Rogério Santana / Governo do Estado do Rio de Janeiro
Morro da Providência
No Morro da Providência, o teleférico virou símbolo de mobilidade, facilitando a vida de quem vive no alto. Para o arquiteto e urbanista Fernando Pereira, políticas assim precisam ser permanentes.
“É fundamental ter profissionais qualificados acompanhando os moradores. Projetos dentro da favela precisam ter continuidade, não só durar 4 anos”, afirmou.
Embora haja um teleférico no alto do morro, a falta de vias acessíveis nas áreas mais baixas faz com que, em situações de emergência, os moradores improvisem até macas para transportar vizinhos que precisem de atendimento — já que ambulâncias não conseguem acessar algumas partes da comunidade.
De acordo com especialistas do IPPUR/UFRJ, essa solução, criada pela própria população, mostra a urgência de políticas públicas:
“A favela encontra soluções a partir da sua precariedade. Mas isso precisa ser ouvido, amadurecido e qualificado", diz Alan Brum, especialista em planejamento urbano.
Falta de acessibilidade
As barreiras para quem tem mobilidade reduzida são ainda maiores. Flávio Ribeiro, mestre de capoeira e morador, explica:
“O morador que mora lá em cima da escadaria, que é cadeirante, sofre muito. Se ele precisa ir ao médico duas vezes na semana, depende da ajuda de outras pessoas para descer e subir”, contou.
Especialistas reforçam a importância de mapear moradores com deficiência e criar rotas acessíveis dentro das favelas, mesmo reconhecendo que a abertura de vias não será suficiente para atender toda a população.
Os dados reforçam a necessidade urgente de políticas públicas contínuas, com participação direta das comunidades, para garantir acesso ao básico — mobilidade, segurança, urbanização e dignidade.
Para o arquiteto Fernando Pereira, pensar as favelas como parte integral da cidade é essencial.
“O Rio tem cerca de 1.700 favelas. O Rio é uma grande favela com alguns pontos urbanizados. Por que não pensar nesses territórios como bairros?”, questiona.
Escadaria do Morro da Providência
Reprodução/TV Globo